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A literatura como expressão da identidade nacional. A visão do escritor como mediador cultural na Obra de Mia Couto

A importância da língua como expressão da própria identidade

Para compreender a importância da língua como expressão da própria identidade precisa-se definir, antes, o que se entende por “língua”.
Nos manuais de linguística, a língua é definida como um código de símbolos utilizados para transmitir e construir informações. No seu livro, Feminist practice and poststructuralist theory, a professora alemã Chris Weedon afirma que uma língua é a plataforma na qual se constrói a identidade social e pessoal (Weedon 1987).

Entra-se assim no âmbito da sociolinguística, ciência graças à qual se descobre a importância da língua a nível social, descobre-se que cada estilo de língua falada permite construir seja a própria visão do mundo, seja a própria identidade dentro de um grupo bem definido e de distinguir-se também dos outros membros de grupos diferentes. Por exemplo, na análise da linguagem dos ranchero mexicanos da estudiosa Marcia Forr vê-se como não é a língua (como código) que serve para identificar-se, mas é o estilo utilizado da mesma: este permite de sentir-se parte do próprio grupo e de destacar-se dos outros (Bauman, Language, identity, performance 2000).

Revela-se, então, clara a ligação entre todas essas definições e o contexto deste trabalho: se uma língua permite mostrar a própria identidade pessoal, permite mostrar a “identidadenacional”tambèm. O filósofo Johann Gottfried Herder afirmava que a língua é a essência da identidade nacional ou étnica dum povo.
O pensamento das outras povoações é diferente do nosso porque utilizam uma língua diferente. A língua, que está ligada à experiência social, forma o pensamento. [ (Whorf 1956)]

No caso específico de Moçambique, a língua portuguesa europeia foi sofrendo pouco a pouco a influência das línguas locais indígenas e assim, hibridizou-se naturalmente (como em todas as outras colónias). Mia Couto dá muita importância a este aspecto e esclarece-o dizendo que as variantes da língua portuguesa usadas nas suas obras são devidas tanto à sua própria capacidade de criação literária e linguística quanto à impregnação das práticas linguísticas locais:

As pessoas todas já estão falando outro português, há toda uma corrente de imagens, lindas, que as pessoas já estão fazendo, na rua. Como é que a gente pode pôr os nossos personagens, das nossas histórias, falando um português que não existe, que ninguém fala aqui? Então é um pouco a tentativa de reproduzir aquela magia. E o processo de contar as histórias é tão importante como a própria história. (Chabal 1994)

As mudanças do português moçambicano em relação ao de Portugal referem-se ao nível fonético, com pronúncias diferentes das consoantes fricativas e oclusivas e com as vogais átonas pouco reduzidas, ao nível morfológico e sintático, com o uso diferente das preposições a, em, de, frequentes omissões dos artigos e das marcas do plural no nome (p.ex. as coisa), pronomes pessoais antepostos ao verbo (variante utilizada também no português do Brasil), e ao nível lexical, com o uso frequente de vocábulos de origem africana (p.ex. maningue = muito; matebicho = pequeno almoço) e neologismos, sobretudo palavras com o prefixo des a significar negação (p.ex. descabelar = cortar o cabelo).

Isso acontece porque muitas vezes não existem palavras indígenas para traduzir conceitos europeus, mas também não existem nas línguas europeias palavras que traduzam valores da cultura e da realidade moçambicana. Por este motivo, os sistemas de pensamento africanos não podem facilmente ser reduzidos às lógicas europeias: alguns pretendem entender a África através das análises dos fenómenos políticos, sociais e culturais africanos feitas pelos europeus, mas para entender a diversidade africana é preciso antes de tudo conhecer os seus sistemas de pensamento e os universos religiosos, deixando por um lado essa espécie de racismo cultural que faz pensar que é necessário um único saber e que as filosofias provenientes das nações não europeias são de qualquer maneira inferiores às europeias.

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A literatura como expressão da identidade nacional. A visão do escritor como mediador cultural na Obra de Mia Couto

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Informazioni tesi

  Autore: Giada Mattu
  Tipo: Laurea I ciclo (triennale)
  Anno: 2016-17
  Università: Università degli Studi di Padova
  Facoltà: Mediazione Linguistica e Culturale
  Corso: LT-12
  Relatore: Barbara Gori
  Lingua: PT
  Num. pagine: 54

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Parole chiave

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